Tic-Tac


Uma, duas, três, quatro... E só ouço os ponteiros de um relógio que eu nem sei onde está. Tic-tac. E essas luzinhas tão pequenas que agora são capazes de me cegar? Mas tá escuro aqui dentro. E tem uma lua linda lá fora. E esse galo que não para de cantar? Lembra o galo da vizinha. Aquele que sentia muito a sua falta. Me pergunto para quem ele deve cantar agora...

E essa cama que nunca foi tão grande, hein? Inspira, expira. Inspira, expira. E eu, que me sinto tão pequena... Como Alice, olhando para essas listras sem fim. E para essas paredes que não param de crescer. E ainda tem aquele coelho maldito que só me fala que o tempo está passando. 

Tá frio. Tá calor. Tá ruim com esse travesseiro, mas aquele outro está muito mole. Falta o melhor lugar do mundo. Eu, que me sinto sempre tão só nos quartos de hotéis, me sinto sozinha aqui, agora. Tem um buraco aqui dentro. Ecoa. Tem uma confusão de pensamentos aqui em cima. Mas isso são horas? Voltem todos para suas gavetas!

E tem também esse silêncio. E aí... Eu sei, coelho. Já é tarde. Muito tarde...