Com licença?

Uma personagem que invadia as histórias. A dos outros. Percorria as prateleiras da imensa biblioteca a céu aberto. No caminho, fazia bons amigos. Curiosa, abria os livros e pedia licença para entrar. Às vezes, entrava sem pedir licença. Em outras ocasiões, puxavam-na para dentro, sem avisos... Tão pequenina naquele universo de cheiros e palavras. Sentada, na beira da estante mais alta, admirava tudo aquilo. Tantos amigos, tantos mundos diferentes. Como as pessoas tinham histórias pra contar, e como contam das mais diversas formas histórias tão parecidas. E tão particulares ao mesmo tempo! Pedia desculpas por atrapalhar. Atrapalhava e se atrapalhava. É que ela tinha que continuar o caminho. Aprendeu muito cedo que não podia parar. Mas tinha aquele apeeeerto lá dentro. Queria ser a exceção. Aquela para qual há um lugar que lhe aguarda. Ser encontrada. Sonhava encontrar, sem procurar. Desejava tanto ser e fazer feliz, que doía. Mas sorria. Sempre. Como se aquele sorriso pudesse ajudar a iluminar o mundo, mesmo que o alcance fosse pequeno. Mesmo que o brilho nos olhos viesse embaçado por algumas teimosas lágrimas. Por vezes, a alma só deseja abrigo. Há momentos em que ela não cabe no corpo. Em outros, fica tão pequenininha que o eco do espaço que sobra torna-se assustador. Do alto da prateleira, o céu era tão claro que dava para brincar de ligar pontos com as estrelas. Todas as noites, em silêncio, pedia a elas que a abençoassem.

4 comentários:

Unknown disse...

Quando crescer quero escrever como você.

Bjs,

Thiago

Aline Falcone disse...

Poxa, tentei acessar seu perfil para agradecer o comentário tão gentil, mas não é permitido. De qualquer forma, muito obrigada pelo comentário carinhoso!! =)

Anônimo disse...

E você gosta de Clarice? Clarice iria amar você...

Aline Falcone disse...

Será? =)

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